Na última sexta-feira (18/02), o FórumDCNTs promoveu o debate “Câncer no Brasil: Necessidades de Integração e Avanços”. O evento teve como objetivos entender os elos frágeis na jornada da pessoa com câncer no país; conhecer os planos já implementados e aqueles que demandarão esforços multissetoriais e interníveis de atenção para que tenham suas metas atingidas até 2030; e, por fim, firmar compromisso entre os setores público, privado e terceiro setor para a implementação colaborativa de programas e políticas de saúde que permitam ao país melhorar seus indicadores de diagnóstico oportuno e cura do câncer no país. (Confira todos os vídeos do Evento aqui).
Participaram do encontro Dr. Mark Barone, coordenador do FórumDCNTs; Sra. Alcina Romero (SESAB); Sr. Antônio Silva (Roche); Dra. Eliana Dourado (CONASS), Sra. Nayara Landim (Abrale/TJCC); Dr. Marco Moraes (SES-SP); Dra. Luciane Duarte (SES-SP); Dra. Maria Braghiroli (SBOC); e Dr. Sandro Martins (Hospital Universitário de Brasília/EBSERH).
Na abertura do painel, Mark Barone lembrou a meta de reduzir a mortalidade prematura em ⅓ até 2030 e que o câncer tem sido um dos maiores motivos desse tipo de morte. Ele destacou em sua fala que o tipo de câncer com maior incidência e mortalidade no Brasil são o de pulmão, mama e prótese. Entre os fatores de risco, segundo Barone, estão o tabagismo, o álcool, a radiação ultravioleta, as infecções e a obesidade.
Já o painelista Antônio Silva, da Roche, destacou a relevância do fórum e do painel na busca de um debate e trabalho em conjunto. Nayara Landim, do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, destacou um levantamento recém publicado que afirma que a pandemia irá impactar o tratamento oncológico dos brasileiro por 5 a 10 anos. Ela lembrou que atualmente há pacientes prejudicados pela falta de medicamentos em diferentes regiões do país e o projeto de lei que está tramitando no Congresso pode onerar ainda mais o valor dos medicamentos.
Após a abertura do evento, Sandro Martins, do Hospital Universitário de Brasília/EBSERH falou sobre os motivos que fazem com que o câncer seja o principal causador de mortes prematuras no Brasil. De acordo com ele, é preciso observar os números e tentar aplicar ações diferentes, sobretudo porque a pandemia estressou ainda mais os números que já são delicados. Martins destacou também a importância de desenvolver um plano de ação que diz respeito ao acesso a tratamento oncológico e que é um ponto importante para o SUS com o objetivo de lograr uma diminuição das mortes.
Já Alcina Romero, da SESAB, contou sobre os avanços sobre prevenção e controle do câncer na Bahia, plano que envolve o período de 2015 a 2023. De acordo com ela, há dois avanços que podem ser destacados. O primeiro deles é a estratégia para redução do tempo de confirmação diagnóstica com a implantação de 28 policlínicas estaduais. Segundo ela, isso possibilitou a redução de tempo do diagnóstico. O segundo é a expansão e regionalização da rede de assistência especializada em oncologia na Bahia: quatro novas redes serão implantadas até 2032, além das nove já existentes.
Em seguida, Maria Braghiroli (SBOC | ICESP) lembrou que os pontos prioritários no Brasil devem ser o diagnóstico e o tratamento do câncer, que estão diretamente interligados. Ela informou que a SBOC faz campanhas de conscientização que envolvem mudança de estilo de vida, vacinação e rastreamento. Para a doutora, a educação está diretamente ligada ao diagnóstico para a formação de médicos generalistas.
A painelista Luciane Duarte, representante da Secretaria do Estado de Saúde de São Paulo, tratou, em sua fala, das ações da pasta voltadas para o monitoramento e combate ao câncer. De acordo com ela, a mortalidade prematura por neoplasias malignas tende a diminuir em 2030, chegando a 101,85 para cada 100 mil habitantes. Ela, porém, destacou que o câncer de mama há um aumento de mortes prematuras por conta dessa neoplasia - valor superior se considerado todo o Brasil. O mesmo acontece com o câncer de colo do útero.
Antes de abrir para o debate, a representante do CONASS, Eliana Dourado falou como o conselho tem orientado a integração entre níveis de atenção para o combate ao câncer no país. Ela destacou ainda a importância do financiamento tripartite, porque, cada vez mais, há uma redução de recursos e de financiamento na esfera federal, obrigando estados e municípios a terem que aportar mais verba da parte deles.
Por fim, a Dourado destacou a necessidade de uma formação e qualificação dos profissionais, não apenas dos especialistas. A representante do CONASS falou da necessidade de focar essa formação também na Atenção Primária para deixar de “enxugar gelo” e poder trabalhar efetivamente na prevenção e diagnóstico precoce. “É preciso ter a atenção primária fortalecida para que ele tenha a possibilidade de fazer o enfrentamento do câncer".
Já a painelista Liz Almeida, do INCA, falou da importância de ter uma infraestrutura adequada para que se possa fazer o diagnóstico precoce do câncer. “O que precisamos fazer é deixar de ter uma corrida de obstáculos para os pacientes e ter uma linha de cuidados eficiente”. Almeida ainda citou a necessidade de capacitar e apoiar o profissional da ponta, dando infraestrutura para que os pacientes sigam adiante na precisão do diagnóstico e, posteriormente, o tratamento.
Durante o debate e considerações finais do evento, o representante da Roche, Antônio Silva, citou a importância de criar marcos para que a tecnologia e a inovação estejam abertas no Brasil, assim como ocorre em outros países.
Sandro Martins (HuB/EBSERH), por sua vez, afirmou que a grande dificuldade é a regulação do acesso das redes de oncologia e todos os processos para chegar ao tratamento. Segundo o médico, o paciente encara uma maratona com obstáculos. “Há muito o que se fazer para que o paciente tenha um fluxo linear e acesso ao tratamento o mais rápido possível”, disse. Nayara Landim (TJCC) focou sua fala no trabalho do movimento com lançamento de campanhas e manuais sobre os principais fatores de câncer.
Já Marcos Moraes, da Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo, abordou a a importância da integração entre a questão da vigilância e da atenção à saúde. De acordo com ele, a vigilância vem com a coleta de dados que dá subsídio à atenção à saúde e a realização de pesquisas. “Vemos uma priorização da questão da assistência no atendimento, mas temos que prever e fazer de tudo para que não tenhamos o alto custo da assistência. Isso só vai melhorar se investirmos nos fatores de risco e priorizar na promoção da saúde”.
Miriam Shirassu, também da secretaria paulista, contou que São Paulo está investindo em modelos preditivos de Inteligência Artificial para identificar em diferentes territórios os principais tipos de doenças.
Eliana Dourado (CONASS), por sua vez, falou do trabalho do conselho, entre eles o fórum com secretários estaduais de saúde onde o tema câncer é pautado sistematicamente. Outros são projetos que ela considera bastante audaciosos - são 20 projetos ligados ao Ministério da Saúde -, por exemplo a construção de redes de atenção.
Questionada por Mark Barone quais são as ações prioritárias para reduzir as mortes prematuras, Liz Almeida exemplificou com as ações que envolvem o câncer do colo do útero, uma vez que existem vacinas, exames que preveem a neoplasia e tratamento. Temos uma série de medidas que podemos levar mais a sério no país. Não é possível criar um sistema de vacina e não ter campanha sobre isso. É preciso falar sobre a vacina do HPV”.
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