7º encontro do FórumDCNTs, realizado no dia 23 de outubro, reuniu representantes do Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais, da iniciativa privada e de movimentos civis
Idealizado pelo Public Health Institute (PHI) em 2016, com mais de 100 instituições participantes, foi realizado no dia 23 de outubro o 7º encontro do FórumDCNTs com o objetivo de discutir e identificar prioridades no combate das DCNTs (Doenças Crônicas Não Transmissíveis), compartilhar conhecimento, criar oportunidades e facilitar a integração e a construção de soluções conjuntas, escaláveis e sustentáveis entre os seus membros. Agenda completa e a gravação aqui, fotos aqui.
Participaram do evento representantes do Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais, da iniciativa privada e de movimentos civis. “Um dos grandes desafios deste encontro foi garantir o espaço necessário para as diferentes DCNTs e seus fatores de risco, em um momento de tanta pressão sobre os ODSs da ONU e, ainda, em paralelo ao momento de revisão do Plano Nacional de Enfrentamento às DCNTs 2021-2030”, afirma o Dr. Mark Barone, Fundador e Coordenador Geral do FórumDCNTs.
A abertura do evento foi feita por pelo Dr. Mark Barone, que agradeceu a participação de todos, enfatizando que um dos objetivos do evento “é levar o Brasil de volta aos trilhos na meta 3.4 (meta da agenda 2030 de reduzir em ⅓ as mortes prematuras causadas por DCNTs)". Membros da Comissão Consultiva do FórumDCNTs também discursaram neste momento, identificando prioridades atuais no enfrentamento às DCNTs. Dra. Fátima Marinho, da Vital Strategies, destacou a necessidade de atenção às doenças respiratórias desde a infância, enquanto a Sra. Mônica Andreis, da ACT Promoção da Saúde, expressou preocupação em relação à tributação favorável a bebidas açucaradas no Brasil.
Na sequência, uma das apresentações mais aguardadas, do diretor do Departamento de Análise de Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (DASNT-SVS-MS), Dr. Eduardo Marques Macário, na qual ele apresentou quais metas do plano de enfrentamento às DCNTs 2011-2022 o Brasil não conseguirá atingir. Apresentou, ainda, características do novo plano de enfrentamento à DCNTs, 2021-2031. Tenha acesso à apresentação completa aqui.
Posteriormente, Dra. Katia de Pinho Campos, representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) e moderadora do painel internacional, ressaltou que "nunca antes a conexão da saúde da população e a perspectiva da economia esteve tão evidente". Na sequência expuseram a Sra. Paurvi Bhatt, presidente da Medtronic Foundation, sobre o papel das filantropias globais no enfrentamento das DCNTs durante e após a pandemia; a Sra. Ch'uya H. Lane, a respeito de programas e políticas de prevenção de DCNTs, seus desafios, e as fragilidades dos sistemas de saúde pública; para finalizar, o Dr. Andrew Boulton, presidente da International Diabetes Federation (IDF), destacando dados sobre o aumento da incidência de diabetes tipo 2 e seu impacto em muitos países, incluindo o Brasil.
Após o painel, aconteceu a Reunião dos GTs: Alimentação Saudável; Diabetes; Doenças Cardiovasculares; Obesidade; Prevenção de DCNTs; Saúde Mental; e Todos Juntos Contra o Câncer.
O segundo painel do FórumDCNTs trouxe diversas inovações tanto a respeito de tratamento de uma doença negligenciada quanto em relação à formação de parcerias estratégias. O tema foi "Construção da Rede Nacional de Prevenção, Rastreio e Tratamento de Câncer de Colo do Útero", e contou com a moderação do Sr. Rafael Dall’Alba, da Organização Pan Americana de Saúde (OPAS). O Sr. Rafael apontou ações de um programa global em conjunto com as Nações Unidas para prevenção e controle do câncer do colo de útero, visando integrar todas as iniciativas contra a doença. Na sequência o Dr. André Carvalho, IARC-OMS, lembrou que em 2018 a OMS fez uma chamada para a eliminação do câncer do colo de útero e, apontou isso como base para dois aspectos: vacina e rastreio, e salientou a necessidade de organizar uma rede de vacinação e rastreamento com alta cobertura desde a atenção primária até a terciária.
Participaram também do segundo painel o Dr. Antônio Braga Neto, diretor da Secretaria da Atenção Primária do Ministério da Saúde (SAPS-MS), que comentou sobre o projeto de genotipagem para rastreio da doença e ressaltou, ainda, que esse câncer precisa estar em discussão visto sua elevada letalidade. Dra. Yara Furtado, também da SAPS-MS, salientou a importância em organizar a rede e pensar na mudança da tecnologia de rastreio. Por último falou a Dra. Letícia Katz, da Secretaria de Saúde de Pernambuco, onde o programa teve início e já apresenta bons resultados, lembrando que morre 1 mulher por dia no estado decorrente deste tumor. Concluiu comemorando a parceria da SES-PE com a OPAS e IARC e dizendo que as ferramentas para reduzir a mortalidade por esse câncer são bem conhecidas, mas precisam ter a atenção merecida.
O último painel, com o tema "Alinhamento Multisetorial", foi moderado por Marília Gusmão, da empresa Boehringer Ingelheim. Neste, o membro da Comissão Organizadora do FórumDCNTs, Sr. Ricardo Lauricella, apresentou o Rascunho da Carta Aberta de Prioridades 2020, ressaltando que traz experiências do FórumDCNTs durante todo o ano, e que inclui os pontos elencados no decorrer do evento, para que seja entregue aos principais tomadores de decisão do país. O Dr. Álvaro Avezum, da SOCESP, enfatizou neste painel que a doença cardiovascular continuará sendo a causa principal de morte e incapacitação dentro do Brasil e no mundo afora. “Temos no Brasil um aumento progressivo de morte por infarto miocárdio", segundo ele, que apontou o diagnóstico precoce e tratamento de qualidade para hipertensão e dislipidemia como fundamentais para mudar esse quadro. Mencionou, ainda, a importância da parceria entre os setores para a obtenção se melhores resultados, citando o programa Cuidando do Seu Coração.
Dr. Marco de Moraes, diretor da Secretária da Saúde do Estado de São Paulo (SES-SP), contribuiu com o debate no último painel apontando a "intersetorialidade ser uma prática para avançar no combate e controle das DCNTs". Assim, como a Sra. Graziela Tavares, representante da SAPS-MS neste painel, apresentou os planos a nível federal, Dr. Marco abordou a agenda de ações para o combate das doenças não transmissíveis no estado de São Paulo. Contribuiu, ainda, o Dr. Carlos Bezerra com considerações sobre a estratégia de saúde da família ser crucial, pois aumenta a capacidade de resolutividade dos problemas de saúde impactando no bem-estar local. Concluiu apontando que o legislativo pode ajudar com emendas e projetos de lei.
Outros pontos de destaque discutidos no 7° encontro do FórumDCNTs
Como não poderia deixar de ser, um dos assuntos recorrentes durante o encontro foi a pandemia da Covid-19. Isso porque mais de 60% das pessoas que vieram à óbito por conta do novo coronavírus apresentavam alguma comorbidade crônica não transmissível. “Essa tendência de que pessoas com alguma DCNT seriam mais suscetíveis à Covid-19 já era sabida tanto por conta da pandemia de SARS, no início dos anos 2000, como por conta dos dados que vieram da China e da Itália e que demonstravam que pessoas com diabetes, doenças cardiovasculares e outras DCNTs tendiam a de ter uma evolução pior, caso fossem infectadas. Infelizmente, não nos antecipamos para protegermos melhor essas pessoas e evitarmos o enorme número de mortes que observamos”, ressaltou Dr. Mark Barone.
Uma comorbidade que vem crescendo em nossa sociedade e que foi discutida nos painéis do evento foi a obesidade. Recentemente, o IBGE divulgou dados que, em menos de duas décadas, mais do que dobrou o número de pessoas com sobrepeso ou obesidade no país. “O agravante nesses casos é que a obesidade em si já é considerada uma doença crônica, porém, ela também pode levar a outras doenças como diabetes ou hipertensão, por exemplo”, alerta o coordenador do FórumDCNTs.
Se o Brasil é referência no combate a alguns fatores de risco, como o tabagismo, por exemplo, em outras ainda temos um longo caminho a percorrer, conforme afirma o Dr. Mark Barone: “Apesar de estagnados nos últimos anos, os níveis de tabagismo no país estão muito abaixo quando comparado com a maior parte dos países. Por outro lado, em outras áreas de prevenção como alimentação saudável e consumo de álcool estamos atrasados. Só agora a ANVISA determinou que se utilize a rotulagem frontal dos alimentos para que as pessoas possam ter noção de quais alimentos têm muito sódio, açúcar ou gordura. Já com relação ao álcool, estamos ainda mais atrasados. Deixou-se de fazer propaganda de cigarros e, em suas embalagens, foram instituídas aquelas imagens nada atraentes. Em relação a bebidas alcoólicas, ainda vemos muita propaganda, garrafas e latas muito bonitas e não identificamos os riscos do consumo. A Organização Mundial da Saúde e a Organização Pan-americana da Saúde são enfáticas ao dizer que ainda faltam leis no Brasil para isso”, finaliza Dr. Mark Barone.
O Guia Alimentar da População Brasileira foi outro tema de extrema importância discutido no 7° encontro do FórumDCNTs. O material foi desenvolvido para o Ministério da Saúde pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), e é referência nacional e internacional para a promoção da saúde e indicador de políticas públicas. O Guia está em uso desde 2014 e, em setembro deste ano, o Ministério da Agricultura publicou uma nota técnica, prontamente rebatida pelo Nupens/USP e por organizações da sociedade civil, apontando supostas falhas no guia e solicitando ao Ministério da Saúde sua revisão.
“O FórumDCNTs está atento ao encaminhamento do caso com o objetivo de manter seus parceiros informados e apoiar ações que avancem, e não retrocedam, os esforços nacionais e globais de enfrentamento às DCNTs para se atingir a meta 3.4 do ODS 3, por meio de iniciativas sólidas”, manifestou-se a iniciativa.
O FórumDCNTs na mídia:
FórumDCNTs
O FórumDCNTs tem como proposta promover parcerias entre as principais instituições dos setores público, privado e terceiro setor para o combate à causa de 74% das mortes no país, as doenças crônicas não-transmissíveis (DCNTs).
O FórumDCNTs foi idealizado pelo Public Health Institute (PHI) em 2016 e hoje conta com mais de 100 instituições participantes.
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