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Quase 1/3 dos AVCs no Brasil podem ser evitados com o diagnóstico e tratamento da hipertensão

Evento do FórumDCNTs discutiu como enfrentar este e outros fatores responsáveis pelo substancial número de mortes por doenças cardio e cerebrovasculares no país


Questionamentos oportunos e importantes debates envolveram mais um evento do FórumDCNTs, desta vez sobre as doenças cardiovasculares, principais causas de morte da população mundial, com foco no Acidente Vascular Cerebral (AVC) e Trombose. Em todo o planeta são 101 milhões de pessoas com sequelas de AVC, principalmente quando relacionada à hipertensão. Apenas no relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado recentemente, 4 em cada 5 pessoas com hipertensão não são tratadas adequadamente, e 76 milhões de mortes podem ser evitadas com o tratamento adequado entre 2023 e 2050, de acordo com a estimativa da organização (Confira todos os vídeos do evento aqui).


Outro dado impactante é que 3 em cada 10 AVCs aconteceram em pessoas que não tinham um acompanhamento da condição, número altíssimo para um país de dimensões continentais como o Brasil. Dessa forma, o uso dos anticoagulantes tem grande e importante fator na sensibilização e desafio de reduzir essa estatística no país. Esses e outros temas foram discutidos no painel “AVC e Trombose: Estratégias para Reduzir Mortes”, promovido pelo FórumDCNTs no dia 6 de outubro.

Gisele Sampaio (HIEA | Unifesp)

Dando boas-vindas aos painelistas e participantes internautas, o Dr. Ronaldo Wieselberg, membro da Comissão Consultiva do FórumDCNTs e Vice-presidente da ADJ Diabetes Brasil, comentou sobre o processo de organização, desde os objetivos do encontro de especialistas até o debate interativo. Em seguida, a Sra. Patrícia de Luca, representante da AHF e membro da Comissão Organizadora do FórumDCNTs, contextualizou o tema do ponto de vista do paciente apresentando histórias de pessoas que passaram por situações relacionadas ao acidente vascular cerebral (AVC), com paralisias, e à trombose, e as dificuldades encontradas no atendimento médico-hospitalar, quanto à acesso a equipamentos para exames mais específicos, como uma tomografia, e o tratamento em si. E como reflexão para o debate lembrou que são vidas, e que o tempo de atendimento faz toda a diferença.

Em seguida, a Dra. Gisele Sampaio Silva, Professora Livre-docente na Universidade Federal de São Paulo e Pesquisadora no Hospital Israelita Albert Einstein, apresentou as estratégias populacionais implementadas no Brasil que efetivamente levaram à redução de AVC e infarto e como escalá-las para todo o país. Ao redor do mundo existem mais de 12,2 milhões de AVCs por ano, 1 a cada 3 segundos, sendo que 101 milhões de pessoas estão vivendo com sequelas de AVC em todo o planeta, com a hipertensão como o principal fator de risco. “Hoje são três bilhões de pessoas com hipertensão no mundo, e 43% não sabem que têm essa condição. Por isso, o conhecimento e a prevenção são o melhor caminho para evitar o AVC”, destacou a médica neurologista.


A especialista mencionou o Dr. Norberto Cabral, que afirma “se temos dados, temos poder”, como as informações relacionadas à hipertensão e ao diabetes no The Lancet e no The New England Journal of Medicine, além do Programa PROADI-SUS e especialmente a Iniciativa HEARTS.

Sheila Martins (Rede Brasil AVC | WSO)

Na sequência, a Dra. Sheila Martins, Presidente da Rede Brasil AVC e World Stroke Organization, destacou o número de centros de AVC no Brasil, que de 2008 a 2022 teve um crescimento exponencial, de 35 para 248 centros, além de 5 para 102 unidades. Mesmo assim, a assistência ao AVC no Brasil melhorou com a organização do cuidado do AVC agudo, mas não foi suficiente para reduzir os 400 mil casos ao ano. Portanto, o rastreio, a partir da Diretriz Europeia e Canadense, deve acontecer em pessoas com mais de 65 anos e/ou que tenha fatores de risco como hipertensão, diabetes, cardiopatia, obesidade, apneia do sono e AVC.


No Brasil, os anticoagulantes surgiram para melhorar os índices da condição, mas precisam de melhorias, como na Inglaterra em que se espera uma redução de 20 mil casos e 5 mil mortes por ano. “Hoje no Brasil, 30% dos AVCs são recorrentes e na maior parte dos pacientes não houve uma investigação porque não existiu uma prevenção adequada. Assim, o uso dos anticoagulantes pode reduzir em 68% as chances de um AVC”, comentou.

Roberto Botelho (Triangulo Heart Institute)

O Dr. Roberto Botelho, Diretor do Triangulo Heart Institute, apresentou as estratégias de Saúde Digital e como elas fortalecem as linhas de cuidado para melhorar desfechos clínicos, tanto na prevenção como no tratamento. O especialista e sua equipe criaram um projeto de uma rede de telemedicina destinada à sete países, atendendo 10 mil pessoas por dia para apoiar também com a inteligência artificial (na Colômbia, México e Brasil). Nesse projeto, um algoritmo detectava o infarto, identificava o local e o trânsito recomendado, além de apresentar um caso de trombólise, trombólise mais resgaste ou angioplastia primária. A redução de mortalidade caiu de 1 a cada 4 pessoas para 1 a cada 25 pessoas.


A equipe desenvolveu outra plataforma mais ampla, a Conexa, que implementa uma medicina corporativa com linhas de cuidado específicas do ambiente profissional. Com esses programas conseguiram reduzir indicadores de mortalidade, com algoritmos que mudam desfecho do infarto e do AVC, identificando sinais de risco e propondo as linhas de cuidado o algoritmo detecta e cria linhas de cuidado. “Esses são métodos de baixo custo e que promovem equidade e aderência ao tratamento”, finalizou o cardiologista.

Octávio Pontes-Neto (HCFMRP-USP)

Em mais uma apresentação sobre o tema, o Dr. Octavio Pontes-Neto, Chefe do Serviço de Neurologia Vascular e Emergências Neurológicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP), salientou que “as evidências científicas dos estudos em AVC detectaram que essa condição voltou a ser a principal causa de morte no Brasil e a tornar incapacitante grande número de pessoas”, sendo 400 mil casos de AVC por ano no país. Quanto a implementação de tratamentos, em 2021 o Ministério da Saúde publicou uma portaria de incorporação do tratamento de Trombectomia Mecânica que faz a diferença, mas esse procedimento ainda não foi incorporado ao SUS.

Romeu Sant'Anna (Hospital Risoleta Tolentivo Neves)

Já em relação ao cuidado através da Atenção Primária à Saúde (APS), o Dr. Romeu Sant'Anna, Coordenador do Serviço de Neurologia e Unidade de AVC do Hospital Risoleta Tolentino Neves, reforça que “na APS misturam-se problema de estrutura, carência de profissionais de saúde da família, com questões sociais e de educação, no sentido do conhecimento, que se tornam um problema de saúde”. Para ele, 90% dos casos poderiam ser prevenidos se houvesse uma orientação mais adequada no sistema de saúde. “A APS é o principal alvo e o principal desafio”, destacou.

Rodrigo Cariri (SAES - Ministério da Saúde)

Finalizando as apresentações, o Dr. Rodrigo Cariri, Coordenador Geral de Atenção Especializada na Secretaria de Atenção Especializada (SAES) do Ministério da saúde, afirmou que o governo está atuando em duas grandes linhas: emergencial e estrutural. “Muito se perdeu, as Câmaras Técnicas do Ministério foram destituídas assim como conselhos”. Comentou, ainda, que o “Ministério da Saúde está trabalhando para a criação de Política Nacional de Atenção Especializada, o que deverá construir indicadores e promover melhoria no atendimento à pessoa com hipertensão, diabetes entre outras condições". O representante do governo federal reforçou o compromisso da Secretaria de Atenção Especializada em focar na atenção especializada ambulatorial, mais conhecida como atenção de média complexidade, onde há um vazio em formulações.


Ao final, o debate entre os especialistas abordou novamente a necessidade de maior investimento na APS, de acordo com as necessidades de cada pessoa com Condições Crônicas não Transmissíveis (CCNTs). Ainda, o fator social foi destacado como crucial para os tratamentos, uma vez que indivíduos idosos que moram sozinhos, ou pessoas em vulnerabilidade social, podem não ter o acesso adequado e, como solução, ferramentas de saúde digital se tornam importantes aliadas. Dr. Rodrigo Cariri lembrou que o Ministério da Saúde revisou a Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência, em que as propostas foram ampliadas e os recursos incrementados. Dentro desta Política estão as iniciativas de reabilitação que são previstas nos cuidados de AVC e devem acontecer em rede com a APS.

Apesar do acesso à tecnologia no Brasil ser de 90% dos domicílios brasileiros, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), os especialistas destacaram em coro que levar a saúde digital de forma assertiva é extremamente necessário, visto que o acesso não significa resultado efetivo.

Finalizando o debate, os especialistas salientaram a necessidade do suporte para a implementação das linhas de cuidado, além de haver a monitorização dos recursos destinados aos Centros de Trombectomia habilitados.


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