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Brasil perde R$ 1 bilhão em produtividade com câncer de pulmão, aponta pesquisa do Insper

O alto custo da doença se deve ao diagnóstico tardio, que eleva as taxas de mortalidade. Em evento do FórumDCNTs, especialistas indicaram necessidade de campanhas de prevenção e políticas de rastreamento e diagnóstico precoce


O câncer de pulmão no Brasil gerou custos econômicos de mais de R$1 bilhão em 2019. O cálculo faz parte de pesquisa do Insper divulgada durante o evento Câncer de Pulmão: ações para prevenir e tratar precocemente, evitando óbitos, promovido no dia 24 de novembro pelo Fórum Intersetorial para Combate às Doenças Crônicas não Transmissíveis no Brasil (FórumDCNTs). O valor refere-se aos custos indiretos, ou seja, relacionados à redução da produtividade em decorrência da morte de pessoas com idade inferior à de sua aposentadoria (grupo que corresponde a 1/3 das quase 30 mil mortes anuais por câncer de pulmão), ao absenteísmo no trabalho e à aposentadoria precoce.

Dra. Carolina Melo (INSPER)

Apesar de ser o quarto tipo mais incidente no Brasil (atrás dos cânceres de próstata, mama e cólon e reto), o câncer de pulmão é o que mais mata. Em 2019, a doença causou 29,3 mil mortes no país, enquanto os tumores de próstata e mama não chegaram a 20 mil cada. Por conta disso, de acordo com o Insper, os custos indiretos do câncer de pulmão se aproximam da perda de R$1 bilhão e 380 milhões provocada pelo câncer de mama, o qual apresenta quase o dobro de casos por ano em relação ao primeiro.


A alta morbimortalidade do câncer de pulmão está relacionada ao diagnóstico tardio, realizado, na maioria das vezes, nos estágios III e IV do desenvolvimento do tumor, nos quais as chances de cura são mínimas ou nulas. “Isso reflete também nos custos diretamente associados a ele, menores com cirurgias, quimio e radioterapia, na comparação com os cânceres de próstata e mama, e maiores com diárias de internação em Unidades de Terapia Intensiva”, explica a Dra. Carolina Melo, professora de Políticas Públicas e Economia no Insper.


O FórumDCNTs reuniu especialistas para conhecimento e discussão das conclusões desse estudo. O encontro também estimulou o debate sobre as condições necessárias e as diretrizes a serem adotadas para a redução de óbitos por câncer de pulmão, e identificou experiências locais bem-sucedidas com viabilidade para implantação em nível nacional. “Esperamos que as instituições representadas pelos especialistas convidados continuem o diálogo e juntem esforços em busca da priorização do câncer de pulmão nas políticas públicas”, enfatiza o Dr. Mark Barone, coordenador geral do FórumDCNTs. “Preocupa-nos que a população esteja bem informada sobre quando suspeitar de uma alteração pulmonar e a atenção primária apta a agir em tempo oportuno para rastreio e diagnóstico precoce, o que melhorará drasticamente o cenário atual”, declara.

Sr. Rodrigo Lacerda (CONASEMS)

A pesquisa do Insper também mapeou e classificou as principais barreiras para a implementação de uma política nacional de rastreamento de câncer de pulmão, assim como sistematizou propostas de soluções. “Dentre as sugestões, encontram-se melhorias em centros de excelência; aproveitamento da alta capilaridade da atenção primária do SUS, com o engajamento de seus profissionais na triagem, convencimento da população de risco e navegação do usuário no sistema; e criação de protocolos que considerem prevenção, rastreamento, diagnóstico, tratamento e reabilitação”, expôs a Dra Carolina Melo durante sua apresentação no evento do FórumDCNTs. Para o Sr. Rodrigo Lacerda, assessor técnico do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (CONASEMS), são pertinentes os desafios e propostas levantados pelo estudo. “Devemos trabalhar de forma intersetorial para organizar o cuidado com foco no fortalecimento da atenção básica e criar uma política de atenção especializada ambulatorial”, disse.


Dr. Paulo Corrêa (SBPT)

A importância da prevenção ao uso do tabaco e do suporte para cessação de fumar também foi sublinhada por especialistas. “Estudos mostram que as pessoas que param de fumar aos 50 anos reduzem em, aproximadamente, 90% o risco de câncer de pulmão aos 75 anos. Aquelas que ficaram abstinentes durante sete anos apresentaram uma redução de 20% no risco de mortalidade”, afirmou o Dr. Paulo Corrêa, coordenador da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Dra. Regina Vidal (Ministério da Saúde)

Já a Dra. Regina Vidal, que integra a equipe da Coordenação-Geral da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer da Secretaria de Atenção Especializada (SAES) do Ministério da Saúde, salientou a necessidade de campanhas de prevenção, principalmente direcionadas a crianças e adolescentes. Estratégias nesse sentido estão incluídas no Programa Nacional de Controle do Tabagismo, instituído em junho de 2023 no Sistema Único de Saúde. “Realizamos orientações nas escolas com profissionais de saúde capacitados, pois sabemos que os jovens possuem uma fragilidade em relação à sua afirmação diante dos pares, o que os leva ao tabagismo”. Também inspira preocupação com os adolescentes o crescente uso dos cigarros eletrônicos (vapes). “Existe um projeto de lei que regulariza a utilização desses dispositivos, para o qual a sociedade precisa voltar sua atenção, uma vez que sua eventual aprovação significará um retrocesso na prevenção do câncer de pulmão no Brasil”, alertou a Sra. Helena Esteves, coordenadora de advocacy no Instituto Oncoguia.


Além de insistir na relevância da prevenção e combate a todas as formas de consumo de tabaco, o Dr. Gustavo Prado, gerente de inovação e educação médica no Hospital Alemão Oswaldo Cruz (HAOC), sugeriu ações para efetivar o diagnóstico precoce no país. “Devemos melhorar a jornada da pessoa com sintomas sugestivos de câncer de pulmão dentro do sistema de saúde, que hoje é muito lenta e fragmentada. Também é necessário agilizar o encaminhamento para o diagnóstico daquelas pessoas cujos exames de imagem (realizados por outros motivos, como gripes) revelam achados anormais. E sobretudo, é imprescindível uma política de rastreamento, ou seja, a busca ativa de pessoas assintomáticas por meio de tomografia, à semelhança do que já ocorre com a mamografia para detecção de câncer de mama”, elencou.


Experiências locais de rastreamento e melhor gestão do sistema de saúde mostram resultados positivos e podem ser replicadas. Médicos do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), em Porto Alegre (RS), por exemplo, tiveram a iniciativa de fazer o rastreamento por tomografia computadorizada de baixa dose nas pessoas atendidas pelo Serviço de Pneumologia. A atividade envolveu a discussão e padronização de condutas, investigação e manejo de pessoas com anormalidades observadas. Segundo o Dr. Fábio Svartman, pneumologista do HNSC, foram encontrados nódulos suspeitos em 14% das 712 pessoas rastreadas, sendo que 1,5% foram confirmados como câncer de pulmão. Destes casos, ⅔ estavam nos estágios I e II, o que permitiu a realização de tratamentos com intenção curativa.


O hospital também instituiu o projeto Relógio do Câncer, com o intuito de diminuir o tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento a partir da integração e monitoramento de informações dos prontuários eletrônicos. “Com isso, identificamos gargalos, priorizamos exames e consultas, e fizemos busca ativa de quem faltava. Entre junho de 2021 e fevereiro de 2023, reduzimos a média de dias entre diagnóstico e tratamento de 63 para 43”, informou Svartman.

Durante o debate final, os especialistas chamaram a atenção para a falta de visibilidade dessa doença silenciosa. “Temos a campanha Novembro Branco, de conscientização sobre o câncer de pulmão, mas ela é pouco difundida em relação ao Novembro Azul, que trata do câncer de próstata. Precisamos de ações mais robustas e constantes nesse sentido”, defendeu a Sra. Helena Esteves. “Para melhorar a situação atual, não devemos esquecer da educação dos profissionais de saúde, pois muitos deles não possuem informações suficientes sobre os sinais e sintomas do câncer de pulmão”, acrescentou.


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