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Interoperabilidade da saúde digital é essencial para melhor gestão das CCNTs/DCNTs no Brasil

Foto do escritor: FórumDCNTsFórumDCNTs

Em evento do FórumDCNTs, especialistas expuseram como a integração dos dados digitais pode otimizar o cuidado das pessoas com condições e doenças crônicas não transmissíveis


A pandemia de Covid-19 impôs aos setores público e privado de todo o mundo o desenvolvimento, adoção e/ou aprimoramento de ações relacionadas à saúde digital. No Brasil, houve aumento dos investimentos em telemedicina e telessaúde, bem como a evolução dos serviços de coleta e disponibilização de dados para vigilância epidemiológica. De acordo com o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, em 2022, um em cada três médicos brasileiros realizou teleconsulta. Além disso, 80% guardaram dados de exames eletronicamente e 68% fizeram prescrição de remédios em formato eletrônico (Confira todos os vídeos do evento aqui).


Esses recentes e bem-vindos avanços somam-se a programas e pesquisas que acontecem há mais de duas décadas no país e que envolvem universidades, empresas e governo. São iniciativas com sistemas de informação e comunicação diversos, os quais, na maioria das vezes, não possuem interoperabilidade. Por conseguinte, a menos que sejam feitas padronizações, não é possível reunir os todos dados gerados e usá-los de maneira coordenada para otimizar os resultados em saúde.


O intercâmbio entre essas tecnologias pode melhorar os cuidados das pessoas com condições e doenças crônicas não transmissíveis no Brasil. Tendo em vista os benefícios para essa população, o Fórum Intersetorial para Combate às Doenças Crônicas não Transmissíveis (FórumDCNTs) realizou o painel CCNTs/DCNTs, Saúde Digital e Interoperabilidade no dia 7 de julho. “O encontro viabilizou o diálogo entre diferentes setores da sociedade por meio da troca de experiências, relatos de casos de sucesso e apresentação de pesquisas acadêmicas. Dentre os assuntos discutidos, estiveram os gargalos que dificultam a interação entre as diversas linguagens informáticas, os procedimentos que nos direcionarão à gestão eficiente dos dados e as contribuições de cada ator social durante esse processo”, explicou Dr. Mark Barone, coordenador do FórumDCNTs.


Os benefícios do compartilhamento de dados em saúde

O registro unificado e o acesso compartilhado às informações dos sistemas de saúde digital do Brasil permitirão decisões em saúde pública baseadas no binômio indivíduo-população. Esse é o parecer do Dr. Lincoln Moura Júnior, membro da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) e consultor em estratégias de saúde digital. “Teremos uma visão integral da saúde de cada pessoa. Identificaremos em quais locais estão os brasileiros com condições e doenças crônicas e quais determinantes sociais da saúde estão atrelados a elas. Assim, poderemos assegurar que as linhas de cuidado alcancem as pessoas certas”, explicou. O engenheiro afirmou que as ações de prevenção também serão melhor direcionadas, pois os dados relativos às CCNTs/DCNTs facilitarão a estratificação da população conforme os resultados de avaliações de riscos.


Para Alan Silva, secretário geral do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (COSEMS/MG) e secretário municipal de saúde de Divinópolis/MG, o fortalecimento de projetos de interoperabilidade trará um aumento gigantesco na eficiência do SUS, além da economia de recursos financeiros. “A integração dos sistemas que monitoram toda a linha de vida do usuário evitará a solicitação desnecessária de exames e o desperdício de medicamentos”, ressaltou.


Iseli Reis, co-facilitadora do grupo temático de Saúde Digital em Condições Crônicas não Transmissíveis do FórumDCNTs e CEO da Fleximedical, lembrou que o compartilhamento das informações do prontuário de um indivíduo garante melhores desfechos e acelera sua recuperação. “Além de tomadas de decisão mais assertivas, há melhor organização do cuidado entre os profissionais de saúde, maior eficiência e economia de tempo, bem como a redução de erros médicos e da mortalidade”.


Em todos os níveis da atenção à saúde, a agilidade garantida pela organização e gestão das informações digitais do usuário pode salvar vidas. Em Pouso Alegre (MG), a pesquisa de mestrado de um médico da atenção primária levou ao desenvolvimento de um projeto de saúde digital para otimizar a jornada das mulheres com câncer de mama na cidade. No trabalho acadêmico, o pesquisador verificou que o tempo médio de espera entre o diagnóstico e o início do tratamento na atenção especializada era de 100 dias. Ao tomar conhecimento dessa realidade, a secretária municipal de saúde Silvia Regina da Silva coordenou o desenvolvimento de um aplicativo para computar os dados das usuárias na atenção básica e, a partir deles, verificar as dificuldades por ela enfrentadas em sua jornada. “Inserimos no programa as respostas das mulheres a um questionário. Assim, conseguimos detectar quem fez, ou não, mamografia, o resultado desse exame e o tempo decorrido desde sua realização. Com isso, priorizamos o retorno das mulheres que apresentaram alterações nas mamas, de maneira a agilizar o diagnóstico e tratamento, evitando que o tumor atinja um estágio avançado”, relatou Silva, que também é membro da Comissão Intergestores Bipartite (CIB) do município.


A farmacêutica Michele Mello, gerente de Assuntos Governamentais na Roche e membro do Conselho Consultivo do FórumDCNTs, ratificou a importância de iniciativas como a de Pouso Alegre para a compreensão das lacunas na jornada da saúde percorrida pelas comunidades locais. “Isso nos ajuda a, em parceria com gestores públicos, definirmos a melhor maneira de colaborar para a resolução dos problemas detectados”. Mello sublinhou que, estruturadas por meio da interoperabilidade, as ações digitais têm o poder de viabilizar o acesso sustentável dos usuários ao SUS. “A Roche é uma empresa de inovação, e esta somente faz sentido se estiver de acordo com as necessidades do país e se houver acesso a ela. Desse modo, é nossa responsabilidade auxiliar projetos de saúde digital por meio de investimentos financeiros e da partilha de conhecimentos”, refletiu.


Desafios e estratégias de saúde digital

O diretor de Políticas Públicas no Instituto de Estudos para as Políticas de Saúde (IEPS), Arthur Aguillar, enfatizou que a política digital de saúde deve ser objetiva e escalonada para não correr o risco de ser reduzida a um protocolo de intenções. “Precisamos determinar prioridades e como as propostas de resolução serão efetivadas. Para viabilizar a interoperabilidade, é prioritário criar uma política de governança de dados em saúde; avançar com os modelos de informação e comunicação de dados da RNDS [Rede Nacional de Dados em Saúde]; e aprimorar os mecanismos de proteção destas informações, o que inclui o estabelecimento de órgãos reguladores para essa finalidade”. Estas recomendações integram um amplo estudo técnico do IEPS sobre os desafios da Estratégias de Saúde Digital para o Brasil 2020-2028.


Moura Júnior concordou que o caminho para a interoperabilidade é trabalhar por meio da priorização dos problemas, criando projetos coordenados para sua solução, cuja implantação deve ser feita em etapas. “Temos o exemplo da eleição eletrônica que, inicialmente, envolveu apenas o pleito para vereadores de São Paulo em 1992, e hoje é um patrimônio imbatível. Ninguém executa um projeto nacional em poucos meses. Devemos começar pelo que é possível”, defendeu. “Podemos nos dedicar, a princípio, às populações mais vulneráveis, como os indígenas e quilombolas”, sugeriu o engenheiro.


De acordo com Gabriella Neves, assessora da Coordenação Geral de Inovação em Sistemas Digitais do DATASUS, as prioridades apontadas por Aguillar fazem parte dos planos do governo federal no âmbito do fortalecimento da RNDS, considerada a plataforma nacional de interoperabilidade. “Prosseguiremos com o aperfeiçoamento da política de governança de dados e as discussões para definição dos modelos de informação em saúde a serem adotados”, declarou.

Neves apresentou o aplicativo Conecte SUS como sistema de apoio ao autocuidado das pessoas com CCNTs/DCNTs. Nele, são disponibilizadas informações para a adoção de hábitos saudáveis e um programa de 12 semanas para melhorar a alimentação e praticar atividades físicas. O aplicativo possui campos para o preenchimento, pelo usuário, de seus índices pressóricos, glicêmicos e de massa corpórea, permitindo o acompanhamento de sua evolução ao longo do tempo.


Saúde digital pode colaborar para a equidade de acesso ao SUS

O evento também debateu as oportunidades geradas pela saúde digital para a promoção da equidade, um dos três princípios fundamentais do SUS. “A Telessaúde abre uma porta de acesso imensa para as regiões que carecem de equipamentos e profissionais de saúde, como a Amazônia Legal. A Teleconsultoria pode aumentar a resolubilidade da atenção básica por meio da orientação a distância que as equipes locais recebem de especialistas”, destacou Aguillar.


Um exemplo da promoção de equidade pela telemedicina é o Projeto Minas TeleCardio, implementado em 2005 pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG). “A telecardiologia surgiu da constatação da necessidade de suporte clínico para pontos remotos do estado com alta mortalidade por condições cardiovasculares e baixo acesso à eletrocardiografia. Iniciamos, então, o telediagnóstico por meio da realização desses exames a distância (TeleECG)”, contou a Prof.ª Dr.ª Isabela Borges, coordenadora clínica do Centro de Telessaúde do HC-UFMG. “O projeto cresceu ao longo dos anos e se expandiu para vários estados, principalmente durante a pandemia. Até agora, efetuamos mais de sete milhões de laudos de ECG”.


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