OMS atende recomendações do FórumCCNTs para a Lista de Medicamentos Essenciais
- FórumDCNTs
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou, em 5 de setembro de 2025, a atualização de sua Lista Modelo de Medicamentos Essenciais (EML e EMLc), incluindo pela primeira vez medicamentos para obesidade e reforçando o arsenal terapêutico para o diabetes com a incorporação de análogos de insulina de ação rápida e de análogos de GLP-1.
A incorporação desses medicamentos na EML e EMLc não ocorreu por acaso. Foi resultado de um processo de advocacy científico e político liderado por diversas entidades globais, tendo o FórumCCNTs, a SBD e outras entidades membros do GT Diabetes e GT Obesidade papel central em articulação com instituições nacionais e internacionais.
Em 2025, o FórumCCNTs publicou artigo científico sobre insulinas análogas, coassinado pelo Dr. Mark Barone, fundador e presidente do FórumCCNTs, trazendo argumentos sólidos sobre a importância de garantir acesso ampliado a essas terapias. Além disso, o FórumCCNTs submeteu à OMS um relatório detalhado justificando a necessidade de inclusão das insulinas análogas de ação rápida como parte do arsenal terapêutico essencial para o manejo do diabetes. Esse esforço coletivo contou com a colaboração ativa de instituições membro do FórumCCNTs, com destaque para a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), além de parceiros nacionais e organizações internacionais de saúde, que se uniram para tornar possível essa conquista histórica.
Entre as novidades, destacam-se os análogos de GLP-1 (semaglutida, liraglutida, dulaglutida e tirzepatida), recomendados como terapia adjuvante para pessoas com diabetes tipo 2 que apresentam comorbidades cardiovasculares, condição renal crônica e/ou obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²) com impacto significativo na saúde física e na qualidade de vida.
Segundo a OMS, “as novas edições das listas de medicamentos essenciais representam um passo significativo para ampliar o acesso a novos medicamentos com benefícios clínicos comprovados e com alto potencial de impacto na saúde pública global” (Dra. Yukiko Nakatani, Subdiretora-Geral de Sistemas de Saúde, Acesso e Dados).
A decisão tem caráter histórico: até então, nenhum medicamento para obesidade havia sido incluído na lista da OMS, apesar da condição já atingir mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e ser considerada uma epidemia em crescimento acelerado, especialmente em países de baixa e média renda. O Comitê destacou que “diabetes e obesidade representam atualmente dois grandes desafios globais de saúde, com ambas as condições atingindo proporções epidêmicas em diferentes populações e regiões”.
Outro marco é a incorporação dos análogos de insulina de ação rápida (lispro, asparte e glulisina, além de biossimilares de qualidade assegurada) tanto na EML quanto na EMLc, abrangendo pessoas com diabetes tipo 1, tipo 2 e gestacional.
O Comitê de Especialistas justificou a recomendação ao afirmar que, embora a eficácia e segurança sejam comparáveis à insulina humana regular, “alguns estudos fornecem evidências de maiores índices de satisfação das pessoas que utilizam análogos de ação rápida, e outros sugerem que esses análogos podem estar associados a menores taxas de complicações”. Além disso, ressaltou que em alguns países o preço dos análogos já não excede o da insulina humana regular. Dados internacionais apontam que, em sistemas públicos de saúde, um frasco de 10 mL de insulina análoga pode custar cerca de US$ 29,39, enquanto a insulina humana regular fica em torno de US$ 9,50 — diferença considerada cada vez mais administrável em estratégias de aquisição pública. Essas evidências, somadas a exemplos internacionais e a estudos brasileiros submetidos pelo FórumCCNTs e seus parceiros, foram determinantes para embasar a decisão da OMS.
Além disso, o Comitê chamou a atenção para o fato de que, em alguns mercados, os fabricantes já vêm retirando gradualmente a insulina humana regular, o que exige uma resposta estruturada: “A razão para recomendar a inclusão dos análogos de insulina de ação rápida é apoiar o acesso, reconhecendo a retirada progressiva da insulina humana regular dos mercados e sinalizar aos países a necessidade de estratégias de política, precificação e aquisição que fortaleçam o acesso acessível”.


A presença de um medicamento na Lista de Medicamentos Essenciais da OMS tem implicações diretas e profundas para a saúde pública mundial. Mais de 150 países utilizam a lista como base para políticas de aquisição pública, fornecimento de medicamentos e esquemas de reembolso em sistemas de saúde e seguros.
Como a própria OMS explica, as listas são elaboradas para atender às necessidades prioritárias de saúde das populações, tornando-se referência internacional e instrumento de política pública confiável. Em outras palavras, quando um medicamento passa a integrar a EML, aumenta significativamente a sua chance de ser disponibilizado nos sistemas de saúde nacionais, inclusive em países de baixa e média renda, onde o acesso a novas tecnologias é geralmente mais limitado.
Para o FórumCCNTs, a inclusão desses medicamentos é fruto de um trabalho coletivo e coordenado, que demonstra a importância da mobilização da sociedade civil, da ciência e das instituições de saúde na formulação de políticas globais.
“A atualização da EML é um passo histórico que fortalece a luta global contra a diabetes e a obesidade. O FórumCCNTs continuará mobilizado para que essa conquista se traduza em acesso real e efetivo para todas as pessoas que precisam desses medicamentos”, destacou o FórumCCNTs em nota.