Em artigo publicado no British Medical Journal (BMJ), especialistas brasileiros alertam que os distúrbios do sono são desconsiderados como fator de risco para diabetes, câncer e hipertensão, entre outras doenças crônicas
A revista científica British Medical Journal (BMJ) publicou, no dia 20 de novembro, artigo assinado por especialistas brasileiros que alerta para a escassez, em todo o mundo, de ações de enfrentamento aos distúrbios do sono. O texto adverte que a negligência com esses distúrbios impedirá a redução da mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis em um terço até 2030, como parte da meta 3.4 dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas (ONU).
Os autores também expressam preocupação com o fato de que os problemas que afetam a qualidade e continuidade do sono são ignorados nas discussões sobre o alcance desta meta, realizadas por órgãos globais relevantes, como a Organização Mundial de Saúde (OMS). Não obstante, os distúrbios do sono são reconhecidos pela comunidade científica como fator de risco para o surgimento e/ou agravamento de condições e doenças crônicas não transmissíveis (CCNTs/DCNTs) como obesidade, hipertensão, diabetes, dor, transtornos mentais, doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral (AVC), além de câncer de mama, próstata e colorretal.
Considerados uma epidemia global pela própria OMS, os distúrbios do sono são amplamente prevalentes, prejudicando a saúde e qualidade de vida de cerca de 40 a 45% da população mundial. A Classificação Internacional de Distúrbios do Sono lista mais de 70 transtornos. Estudos de 2019 mostraram que os mais prevalentes são a apneia obstrutiva do sono (AOS), que atinge quase um bilhão de pessoas no mundo, e a insônia, que aflige 30% dos adultos. Pesquisadores atestaram, em 2021, que pessoas com insônia crônica apresentam um risco 21% maior de hipertensão. Em 2017, cientistas constataram que a insônia crônica acarreta um risco 51% maior de diabetes tipo 2. Ambas as condições estão associadas à diminuição da funcionalidade e aumento do risco de acidentes, redução da imunidade e maior risco cardiovascular.
No Brasil, ao mesmo tempo que a prevalência dos distúrbios do sono está entre as mais elevadas, raramente a população busca orientação e tratamento. O país está entre os dez com maior número estimado de indivíduos com AOS, 27 milhões de brasileiros. Com os maiores índices de ansiedade do mundo, o país também está incluído, não por acaso, entre aqueles em que menos se dorme.
O artigo veiculado pelo BMJ conclama os países a implementarem, em caráter de urgência, políticas de prevenção, diagnóstico e tratamento dos distúrbios do sono. “A identificação oportuna e manejo adequado desses transtornos contribuem para a prevenção primária, secundária e terciária de CCNTs”, lembra o Dr. Mark Barone, pesquisador do tema e coordenador do FórumDCNTs. “Tomadores de decisão e formuladores de políticas devem reconhecer a gravidade desses distúrbios, que são comparáveis aos tradicionais fatores de risco para condições crônicas, como tabaco, álcool, sedentarismo e alimentação não saudável”, defende Barone.
O especialista revela que no Brasil há um esforço intersetorial que já publicou, neste ano, call-to-action às autoridades e material educativo para profissionais e gestores de saúde, para que os distúrbios do sono recebam a atenção necessária. Assinam o artigo, em conjunto com o Dr. Barone, Elton Prates e Júlia Silveira, ambos também do FórumDCNTs, a Profa. Claudia Moreno, Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), e a Profa. Ana Carolina Micheletti, Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (EE-UFMG).
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