Política de tributação de bebidas açucaradas, discutida no Brasil e implementada em diferentes países, surte efeito desejado em San Francisco.
A cidade norte-americana de San Francisco, localizada no Estado da Califórnia, mostrou ao mundo que é possível reduzir os impactos das bebidas adoçadas com açúcar. Um estudo publicado na PLOS Global Public Health pelo Public Health Institute's Prevention Policy Group, aponta que o consumo dessas bebidas diminuiu em 34% em San Francisco nos primeiros dois anos após a implementação de uma tributação sobre refrigerantes em 1º de janeiro de 2018.
O SF Soda Tax, ou imposto sobre os refrigerantes, estabeleceu a taxa de um centavo de dólar por onça (medida que corresponde a 30 gramas) na distribuição inicial de bebidas com adição de açúcar, gerando cerca de US$ 15-16 milhões por ano (entre R$76 e 81 milhões na cotação atual). O valor arrecadado é destinado em iniciativas de saúde em San Francisco que abordam as profundas causas das desigualdades sistêmicas de saúde e as necessidades de comunidades desprivilegiadas, particularmente comunidades de baixa renda e comunidades negras.
A pesquisa apresentou como resultados entre os anos de 2018 e 2020:
Queda de 34,1% no consumo de bebidas açucaradas na amostra de San Francisco dois anos após o imposto, contra uma queda de 16,5% em San José, também na Califórnia, que não adotou o imposto;
Em San Francisco, a probabilidade de consumir mais de 6 onças por dia (180 gramas) diminuiu 4,3% no primeiro ano e 13,6% nos dois anos após impostos. Em San José, essa redução foi de apenas 1% no primeiro ano e menos de 1% em dois anos após impostos;
Houve uma diferença significativa na variação ao longo do tempo (13,2%) no alto consumo de bebidas adoçadas com açúcar entre as duas cidades dois anos após o início do imposto;
O alto consumo de bebidas adoçadas com açúcar diminuiu 23,6% entre os entrevistados de San Francisco que viviam abaixo de 200% do nível de pobreza federal, enquanto aumentou em San José, produzindo outra diferença significativa na mudança ao longo do tempo entre as cidades.
Lynn Silver, Doutora em Medicina e Mestre em Saúde do Public Health Institute (PHI), afirma que “como em outras cidades dos EUA, e em países ao redor do mundo, o imposto sobre refrigerantes de San Francisco está funcionando”. Dra. Lynn ainda completa sua afirmação ao exaltar a política adotada por San Francisco que ressalta ser “vantajosa para todos, pois melhora a saúde pública e aumenta a receita para investir na equidade na saúde.”
Abby Cabrera, co-presidente do San Francisco Sugary Drinks Distributor Tax Advisory Committee vai além e destaca que a cidade arrecadou mais de US$ 50 milhões em impostos desde 2018 (aproximadamente R$ 253,3 milhões na cotação atual). “O compromisso de San Francisco em respeitar as recomendações comunitárias de seu Comitê Consultivo Fiscal garantiu que o imposto sobre refrigerantes continue funcionando para todos nós.”
O impacto positivo das políticas fiscais de bebidas adoçadas com açúcar é observado desde primeiros adotantes nos EUA, como Berkeley, Filadélfia e Seattle, para outros países, incluindo México, Chile, África do Sul, Reino Unido e Arábia Saudita. Os impostos sobre bebidas açucaradas já foram adotados em mais de 45 países.
A publicação ainda elenca a epidemia de obesidade que não desapareceu, e os dados do Trust for America's Health indicam que as taxas crescem em todo o país, com 19 estados com taxas de obesidade em adultos de mais de 35% em 2022, acima dos 16 estados do ano anterior. Outro estudo do CDC de 2014 descobriu que 40% dos adultos nos EUA devem desenvolver diabetes durante a vida e mais da metade dos homens e mulheres hispânicos, bem como mulheres negras, desenvolverão a condição. Inimigo direto, os refrigerantes e outras bebidas açucaradas são a fonte número um de adição de açúcar na alimentação americana e têm sido associados a diabetes, câncer, obesidade, doenças cardíacas e hepáticas, cárie dentária e outras doenças.
A política de tributação de bebidas adoçadas com açúcar, discutida para ser adotada no Brasil e que é aprovada pela maioria dos brasileiros a partir de uma pesquisa Datafolha, encomendada pela ACT Promoção da Saúde, mostra os resultados esperados em algumas partes do mundo e demonstram bons indícios de que a saúde alimentar e nutricional da sociedade pode sim ser preservada no enfrentamento contra a indústria de alimentos que induzem pelo baixo custo e pelas propagandas que atingem principalmente crianças e adolescentes.
Acesse o estudo completo. Clique aqui.
Fonte: Public Health Institute
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