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16º Encontro FórumCCNTs reforça urgência no combate às condições crônicas não transmissíveis no Brasil

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    FórumDCNTs
  • há 5 horas
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Evento em São Paulo debate determinantes sociais e comerciais da saúde e lança novo guia sobre linguagem inclusiva nas CCNTs

 

No dia 9 de maio, aconteceu na capital paulista o 16º Encontro FórumCCNTs, reunindo representantes de instituições públicas, privadas e da sociedade civil para discutir avanços e desafios no enfrentamento das condições crônicas não transmissíveis (CCNTs). O idealizador do evento, Dr. Mark Barone, destacou que 2025 é um ano decisivo para a pauta, com eventos globais como a COP-30, que será realizada em outubro, em Belém (PA), no qual espera-se que compromissos sejam firmados com os Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), e o "FórumCCNTs pretende contribuir com esse diálogo e acompanhar os compromissos que serão firmados".


Dr. Mark Barone, idealizador do FórumCCNTs, na abertura do 16º Encontro
Dr. Mark Barone, idealizador do FórumCCNTs, na abertura do 16º Encontro

Durante a abertura, a representante da Comissão de Saúde do FórumCCNTs e vice-presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (ABRIG), Tacyra Valois, destacou a importância do evento no fortalecimento das políticas públicas voltadas à redução das mortes por CCNTs. "É uma felicidade ver o protagonismo que o FórumCCNTs vem exercendo na construção de políticas de enfrentamento no país", afirmou. Ela também ressaltou que o FórumCCNTs tem gerado documentos e ações relevantes para transformar o futuro da saúde da população brasileira. Entre eles, citou a Carta de Compromisso para Candidatos a Vereadores e Prefeitos, elaborada no evento do ano passado com foco no enfrentamento das condições oncológicas. Segundo ela, o documento é "essencial para engajar os municípios em ações concretas e sustentáveis nessa área de alta complexidade, frequentemente negligenciada na gestão local".

 

O analista de políticas sociais do Ministério da Saúde, Daniel Campos, ressaltou a importância da inovação e da pluralidade de perspectivas na formulação de políticas públicas voltadas às CCNTs. "O que buscamos com inovação em política pública é obter resultados mais aderentes às reais necessidades da população", afirmou. Ele elogiou a equipe do FórumCCNTs por conseguir reunir diferentes atores e pontos de vista em torno de um tema complexo. "A grande riqueza desse encontro está na diversidade de olhares, que se complementam e geram soluções mais eficazes".

 

Participaram ainda da abertura Alessandro Chagas (CONASEMS); Arthur Moraes (Roche); Cristiano Soster (COSEMS-Bahia); Karla Melo (Sociedade Brasileira de Diabetes); Isabelle Rodrigues (Novo Nordisk); João Bordallo (Boehringer Ingelheim) e Tatiana Toporcov (FSP-USP).

 

Mesa de abertura contou com representantes do Ministério da Saúde, entidades públicas e privadas
Mesa de abertura contou com representantes do Ministério da Saúde, entidades públicas e privadas

Durante a abertura, Barone lançou oficialmente a 2ª edição do guia "Linguagem Importa", que propõe uma atualização no vocabulário usado para tratar de temas como diabetes, obesidade e saúde mental, reforçando a importância de uma comunicação mais empática e não estigmatizante. O material está disponível gratuitamente para download e se soma aos esforços do FórumCCNTs em promover mudanças estruturais na abordagem das CCNTs. Representantes da mesa de abertura reforçaram o compromisso coletivo em construir um futuro mais saudável e equitativo.

 

A primeira apresentação do dia, feita por Mônica Andreis (ACT Promoção da Saúde), trouxe um alerta sobre o impacto dos determinantes sociais e comerciais na saúde da população, que estão entre os principais vilões que impedem o avanço em direção ao ODS 3.4, de reduzir em 1/3 a mortalidade prematura por CCNTs até 2030. Ela destacou que fatores como insegurança alimentar, desigualdade social e a influência de grandes indústrias, especialmente as de tabaco, álcool e ultraprocessados, comprometem a eficácia de políticas públicas de saúde. "A dimensão comercial pode comprometer a saúde e o meio ambiente quando interesses comerciais dificultam a adoção de políticas públicas eficazes para maximizar lucros", disse.

 

Lançamento da 2ª edição do guia "Linguagem Importa"
Lançamento da 2ª edição do guia "Linguagem Importa"

Mônica citou dados sobre a insegurança alimentar no Brasil, que teve queda significativa de 2022 para 2023, marcada como avanço importante. No entanto, apesar da redução da fome, o país enfrenta outro extremo: alta prevalência de obesidade e sobrepeso, ligados ao consumo de produtos ultraprocessados sem valor nutricional. Nesse cenário, um dos principais avanços do país foi a aprovação, no final de 2023, do imposto seletivo sobre tabaco, bebidas alcoólicas e açucaradas, representando uma conquista significativa para a agenda de controle de CCNTs no país. Outro ponto positivo foi a isenção de tributos para alimentos saudáveis incluídos na cesta básica, medida que pode gerar efeitos concretos na melhoria da alimentação da população, especialmente das camadas mais vulneráveis.

 

Ela destacou a discussão da política tributária, que foi apresentada e aprovada no final do ano passado no Brasil, apoiando a criação dos impostos seletivos sobre produtos nocivos à saúde e meio ambiente. "Felizmente, tivemos aprovação tanto de tabaco, bebidas alcoólicas e bebidas açucaradas. Nosso desejo era que pudesse ser mais ampliado ainda para ultraprocessados, mas, enfim, já foi uma grande conquista", declarou.

 

Mônica Andreis (ACT Promoção da Saúde): avanços e desafios dos determinantes sociais e comerciais na saúde
Mônica Andreis (ACT Promoção da Saúde): avanços e desafios dos determinantes sociais e comerciais na saúde

Perigo triplo: tabagismo, cigarros eletrônicos e poluição do ar

 

Já a médica pneumologista Margareth Pretti Dalcolmo, presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), falou sobre o tamanho do problema envolvendo cigarros eletrônicos, poluição do ar e saúde de crianças e adolescentes. Ela alertou para o crescimento acelerado do uso de cigarros eletrônicos no Brasil, especialmente entre as camadas médias da população, já que o produto ainda apresenta custo elevado para os estratos sociais mais baixos. "Temos visto crianças e adolescentes adoecerem por causa dos vapes e tomografias de jovens de 19 anos que equivalem a de alguém com 80 anos que fumou a vida inteira. Infelizmente, haverá casos de enfisema pulmonar causando incapacidade respiratória em pessoas de 30 anos de idade", afirmou.

 

A médica também citou que o Brasil é signatário da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (OMS), alcançou uma redução histórica da taxa de fumantes, de 40% para 10%, sendo referência global na área e pode, novamente, servir de exemplo internacional, caso mantenha sua postura firme. No entanto, o comércio ilegal desses dispositivos tem ampliado seu acesso e reduzido os preços, o que preocupa pelas consequências à saúde pública, principalmente entre jovens.

 

Dra. Margareth Pretti Dalcolmo: crianças e adolescentes estão adoecendo por causa dos cigarros eletrônicos
Dra. Margareth Pretti Dalcolmo: crianças e adolescentes estão adoecendo por causa dos cigarros eletrônicos

Ela destacou a atuação ativa do grupo da SBPT na elaboração de parecer técnico que subsidiou a decisão da Anvisa, em 2024, de manter a proibição da comercialização e propaganda dos dispositivos eletrônicos para fumar. Essa regulamentação foi recentemente reforçada por ações do governo para derrubar sites ilegais que vendem esses produtos de forma clandestina. "Só na operação atual, estão sendo retirados do ar de três a quatro sites por dia, muitos deles com serviço de entrega domiciliar. Recentemente, nós tivemos acesso aos dados da Polícia Federal, são salas e salas e lotadas de produtos ilegalmente comercializados no Brasil", disse.

 

Dra. Margareth concluiu sua fala clamando pela união de esforços entre todos os presentes, incluindo instituições governamentais, não governamentais e sociedade civil, na manutenção da legislação vigente contra o tabagismo e na divulgação de informações, principalmente para a sociedade e famílias, pois "há ainda muita desinformação e inocência sobre os riscos dos dispositivos eletrônicos para fumar".

 

Como enfrentar o desafio da obesidade no país


"Por que, apesar de discutirmos tanto obesidade e suas condições associadas, ainda não conseguimos avançar?". Este foi o tema da apresentação de Glenda Cardoso, ativista em obesidade, que iniciou compartilhando uma experiência pessoal: há 4 anos, ela foi submetida à cirurgia bariátrica e eliminou 100 quilos ao longo da sua trajetória.

 

Para Glenda, a resposta para a pergunta tema da palestra pode estar na falta de escuta e valorização da experiência vivida por quem convive com obesidade. Ela disse que, apesar de avanços nas discussões, a abordagem ainda é limitada e muitas vezes excludente. Falta considerar as histórias reais, os contextos e os desafios emocionais, sociais e estruturais enfrentados por pessoas com obesidade. "Nada vai ser solucionado, nenhuma epidemia vai ter resultados se as pessoas que estão no centro da discussão não forem ouvidas de fato", afirmou.


Ativista em obesidade Glenda Cardoso: "É hora de para de falar SOBRE NÓS e começar a falar COM A GENTE."
Ativista em obesidade Glenda Cardoso: "É hora de para de falar SOBRE NÓS e começar a falar COM A GENTE."

Glenda ressaltou que é urgente e necessário incluir a voz de quem vive com obesidade nas discussões, como essa proporcionada pelo FórumCCNTs, decisões, políticas e estratégias de saúde pública. Por fim, ela também expressou receio de que a obesidade passe a ser tratada como mais uma "metacardia", ou seja, uma condição resolvida apenas por tecnologia e medicamentos, a exemplo das canetas injetáveis que hoje têm grande visibilidade. Embora essas tecnologias possam representar tratamento real para quem convive com a obesidade, também são vistas como oportunidades comerciais.

 

Plano DANT e o papel das ONGs


Pensando na Reunião de Alto Nível sobre CCNTs/DCNTs da ONU que ocorrerá este ano, em quais aspectos de difícil progresso nas metas do plano de DANT a colaboração das ONGs e do setor privado terá especial papel para avançarmos? A missão de responder a essa pergunta foi dada ao epidemiologista Luiz Menezes Júnior, pesquisador consultor na Secretaria de Vigilância em Saúde e Meio Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA-Ministério da Saúde). Ele trouxe alguns dados do panorama nacional:


  • As CCNTs/DCNTs continuam sendo a principal causa de morte no Brasil e as populações mais vulneráveis são as mais afetadas;

  • Em 2023, foram registradas 789.598 mortes, das quais aproximadamente 40% ocorreram de forma prematura;

  • A meta global é reduzir em 1/3 a mortalidade prematura por CCNTs até 2030.

 

O epidemiologista Luiz Menezes Júnior (SVSA-Ministério da Saúde) apresentou dados do Plano DANT
O epidemiologista Luiz Menezes Júnior (SVSA-Ministério da Saúde) apresentou dados do Plano DANT

Menezes Júnior explicou que o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das DCNTs no Brasil (PlanoDANT) é um documento estratégico e institucional que orienta a resposta integrada e sustentável às DCNTs e atua de forma transversal, estruturado em quatro eixos: promoção da saúde, atenção integral, prevenção e vigilância em saúde. Ele contém 23 metas e prevê 256 ações estratégicas em cooperação com Ministérios, estados e municípios. Entre os indicadores do Plano DANT com desempenho abaixo do esperado estão a mortalidade por CCNTs e a obesidade em adultos. Também ficaram aquém das metas o consumo de álcool, o tabagismo, a prática de atividade física, a ingestão de frutas e hortaliças e a redução no consumo de refrigerantes e sucos artificiais.

 

Nesse sentido, ele aponta que a atuação das organizações não governamentais (ONGs) pode ser dividida em três frentes principais:


  • engajamento comunitário: programas adaptados a realidades locais em parceria com escolas, universidades e outras instituições;

  • assistência social: suporte psicossocial a pessoas com condições de saúde e famílias, reabilitação e inclusão social;

  • ações de capacitação e advocacy: campanhas de conscientização sobre hábitos saudáveis e pressão por políticas públicas, como legislação anti-fumo, antiálcool e pró-alimentação saudável.


O 16º Encontro FórumCCNTs 2025 contou com apresentações e debates
O 16º Encontro FórumCCNTs 2025 contou com apresentações e debates

Debates acalorados


O debate da primeira parte da manhã no 16º Encontro do FórumCCNTs começou com uma pergunta provocativa: "O que dizer para pais e educadores sobre os riscos do cigarro eletrônico para a adolescência?" A Dra. Margareth alertou para os riscos sérios e muitas vezes subestimados do cigarro eletrônico entre adolescentes. A falsa aparência inofensiva da "fumacinha" esconde partículas muito finas capazes de penetrar no alvéolo e causar condições de saúde como DPOC, mesmo em jovens. "Além disso, o fumante passivo também sofre prejuízos semelhantes aos do cigarro convencional", disse a médica. Divulgar conteúdos em redes sociais nas quais os jovens estão interagindo também é uma boa estratégia. "Médicos, especialmente pneumologistas e pediatras, também precisam aceitar convites para falar diretamente com estudantes e famílias, já que o contato presencial pode gerar maior impacto", afirmou.

 

Por fim, ela ressaltou a urgência de fortalecer políticas públicas, que todos os participantes podem ajudar reivindicando à Anvisa, incluindo a criação de um registro nacional obrigatório de mortes e internações causadas por EVALI (sigla para E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury), condição/doença pulmonar grave causada pelo uso de cigarros eletrônicos ou vaporizadores, pois a ausência de dados oficiais atrapalha a dimensão real do problema.


Enfermeiro sanitarista Fernando Alves (A.C.Camargo): pensar hoje em ações de promoção da saúde e prevenção dentro da APS
Enfermeiro sanitarista Fernando Alves (A.C.Camargo): pensar hoje em ações de promoção da saúde e prevenção dentro da APS

O enfermeiro sanitarista Fernando Freitas Alves, Coordenador de projetos no A.C.Camargo Cancer Center, expôs alguns pontos que, na visão dele, não podem ser mais ignorados no debate sobre saúde pública tendo em vista que estamos a apenas 5 anos do prazo para atingir a ODS3.4 da United Nations. São eles:


  • O impacto das desigualdades sociais: formuladores de políticas públicas, pesquisadores e demais atores envolvidos no sistema de saúde precisam reconhecer que não é aceitável que o acesso ao cuidado seja determinado pela renda, pelo território onde a pessoa vive ou pelas desigualdades estruturais às quais ela está submetida;

  • Pensar hoje em ações de promoção da saúde e prevenção dentro da Atenção Primária de Saúde (APS);

  • A responsabilidade pelas metas de saúde não pode recair exclusivamente sobre o setor saúde. É essencial reconhecer que o enfrentamento das CCNTs e a promoção da saúde exigem uma atuação intersetorial, envolvendo áreas como economia, educação, meio ambiente e assistência social.

 

Envelhecimento saudável versus mortes prematuras


O médico geriatra Milton Crenitte, diretor técnico do Centro Internacional da Longevidade (ILC-BR), expôs que o aumento da expectativa de vida exige políticas públicas que considerem o envelhecimento não apenas como um desafio, mas como uma chance de transformação social. Dados apresentados pelo geriatra mostram que a escolaridade tem forte impacto na autonomia das pessoas com mais de 60 anos. Enquanto 40% entre os analfabetos enfrentam algum grau de incapacidade, esse número cai para 10% entre aqueles com ensino superior. Isso evidencia como fatores sociais, como educação e renda, estão diretamente ligados à qualidade de vida na velhice e à prevenção da perda de independência funcional.

 

Ele apontou a escassez de formação adequada em geriatria como um dos grandes desafios para a prevenção e o cuidado das condições crônicas em pessoas com mais de 60 anos. Poucas escolas médicas oferecem módulos específicos sobre envelhecimento, e são raros os profissionais que escolhem seguir a especialidade. "Essa falta de preparo aumenta o risco de iatrogenia, ou seja, danos causados por intervenções médicas, uma das principais causas de morte entre pessoas com mais de 60 anos."


Dr. Milton Crenitte (ILC-BR): faltam médicos especialistas em pessoas com mais de 60 anos
Dr. Milton Crenitte (ILC-BR): faltam médicos especialistas em pessoas com mais de 60 anos

Para avançar, Crenitte propõe uma abordagem intersetorial com foco na promoção da saúde, no fortalecimento da atenção primária, na criação de ambientes acolhedores e na valorização da pessoa com mais de 60 anos. Combater o etarismo e garantir acesso a práticas de saúde como atividade física, alimentação adequada e apoio à saúde mental são caminhos para um envelhecimento mais saudável. "A pessoa com mais de 60 anos é uma potência social, econômica, afetiva. Não existe envelhecimento se nós não combatermos o idadismo para efetivação de políticas públicas", finalizou.

 

Aumento exponencial de infarto em jovens


O médico cardiologista Luiz Bortolotto, Diretor da Unidade Clínica de Hipertensão do Instituto do Coração (InCor-HCFMUSP), alertou para o crescimento expressivo de infartos em pessoas com menos de 50 anos. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2000 e 2024, a taxa de infarto em jovens aumentou 180%, saltando de 2 para 5 casos a cada 100 mil. Embora os números pareçam baixos proporcionalmente, o impacto populacional é significativo, especialmente quando se considera que muitos desses casos evoluem para insuficiência cardíaca, necessidade de transplante ou outras sequelas permanentes.

 

Segundo o especialista, 90% dos jovens que sofreram infarto tinham pelo menos um fator de risco clássico, como obesidade, diabetes, tabagismo ou dislipidemia, e 60% apresentavam dois ou mais. Além disso, fatores psicossociais como baixa escolaridade, ansiedade, depressão e sedentarismo também influenciam o risco cardiovascular nessa faixa etária. O médico destacou ainda o papel do uso de drogas ilícitas, anabolizantes e condições específicas em mulheres, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional, que podem aumentar o risco de eventos coronários precoces.


Dr. Luiz Bortolotto (InCor): a taxa de infarto em jovens aumentou 180%
Dr. Luiz Bortolotto (InCor): a taxa de infarto em jovens aumentou 180%

Diante desse cenário, Bortolotto defendeu a necessidade de rastrear precocemente os fatores de risco convencionais, ainda na adolescência, e de implementar estratégias específicas para jovens. Entre as medidas propostas estão o acompanhamento de mulheres após complicações gestacionais, campanhas educativas com influenciadores que promovam hábitos saudáveis, e ações públicas para reduzir o uso de substâncias nocivas. O objetivo é evitar que infartos aconteçam e garantir um envelhecimento mais saudável para as futuras gerações.

 

Como parcerias público-privadas podem ajudam no combate às CCNTs?


Para finalizar as apresentações da manhã, o professor Alberto Ogata (FGV) propôs uma reflexão sobre as bolhas que limitam o debate em saúde populacional e o enfrentamento das CCNTs. Ele criticou a ausência do setor privado e do ambiente de trabalho nessas discussões, ressaltando que 50 milhões de brasileiros estão na saúde suplementar e ainda há pouco investimento em promoção e prevenção. Além disso, destacou que o local de trabalho, por concentrar adultos por longos períodos, é um espaço estratégico para rastrear riscos e promover saúde, prática já adotada internacionalmente.

 

Ogata alertou para o esvaziamento da atenção primária como espaço de prevenção e criticou propostas como os planos de saúde populares, que transferem os casos mais complexos para o Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ele, essa fragmentação desvaloriza o cuidado contínuo e ignora o impacto ambiental das CCNTs.


Prof. Alberto Ogata (FGV): precisamos usar mais as tecnologias na área da saúde
Prof. Alberto Ogata (FGV): precisamos usar mais as tecnologias na área da saúde

A palestra também destacou a necessidade de incorporar tecnologias, como inteligência artificial, chatbots e cabines digitais, para ampliar o acesso, o monitoramento e o engajamento da população. Ogata apresentou um projeto-piloto com empresas, que combina automação via WhatsApp com suporte remoto multiprofissional. Nesse exemplo, uma mensagem enviada estrategicamente para pessoas com hipertensão, por exemplo, perguntando se estão usando o medicamento, poderia fazer a diferença. Por fim, Ogata criticou a superficialidade com que a saúde mental é tratada. Segundo ele, transtornos como depressão, ansiedade e abuso de substâncias são hoje as condições crônicas mais prevalentes, mas continuam sem estratégias integradas de cuidado. "Não basta um mês colorido", afirmou, defendendo acesso efetivo, tratamento contínuo e envolvimento intersetorial. "Não dá mais para pensar em políticas públicas sem romper bolhas, incorporar o setor privado e usar a tecnologia como aliada", finalizou.

 

Pitchs dos GTs do FórumCCNTs e premiações dos trabalhos


O período da tarde foi dedicado às reuniões dos Grupos Temáticos (GTs), divididos em dez assunto: Alimentação Saudável, CCNTs sem Estigma, Obesidade, Oncologia, Saúde Mental e Neurológica, Atividade Física, Condições Respiratórias Crônicas, Condições/Doenças cardiovasculares (DCV), Diabetes, e, por fim, Infarto e AVC. Após as discussões, houve duas rodadas de apresentações com especialistas em saúde e políticas públicas.


Dez grupos de trabalhos (GT) discutiram ações para reduzir mortes e complicações por CCNTs
Dez grupos de trabalhos (GT) discutiram ações para reduzir mortes e complicações por CCNTs

No intervalo para o café, os participantes do encontro tiveram a oportunidade de interagir com dez dos quinze finalistas do Concurso de Melhores Projetos de CCNTs 2025. Já os cinco projetos selecionados foram apresentados oralmente, em um momento conduzido por Patrícia de Luca (AHF | FórumCCNTs), com participação de representantes de instituições parceiras como Roche, Boehringer Ingelheim, Sanofi, Novo Nordisk e Novartis Foundation. A premiação reconheceu iniciativas inovadoras e de impacto no enfrentamento das CCNTs e os finalistas foram:

 

1º lugar: Navegação que salva: câncer de mama em foco, da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro

2º lugar: Avaliação e rastreamento do Pé Diabético, da Universidade Federal São João del Rei/C.Divinópolis

3º lugar: O ACS no cuidado da má nutrição na APS, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

4º lugar: Cuidando da Vida: Prevenção do AVC, do Centro Especializado em Reabilitação III. SMS/PMVR

5º lugar: Insulinoterapia: o guia do profissional de saúde, da Universidade Estadual do Ceará - UECE


Lançamento de livros


Para encerrar o 16º Encontro, o FórumCCNTs promoveu o lançamento de materiais desenvolvidos por instituições parceiras, com moderação do médico endocrinologista Ronaldo Wieselberg (ADJ Diabetes Brasil) e Tatiana Porto (Sanofi). A série de lançamentos reforçou o compromisso coletivo com a promoção da saúde e a prevenção das CCNTs por meio da educação, conscientização e apoio aos profissionais e pessoas com condições de saúde.

 

Entre os destaques, a psicóloga Andrea Levy, do Instituto Obesidade Brasil, fez o pré-lançamento do livro "Cirurgia Bariátrica: Manual de instruções para pacientes e familiares", que está na segunda edição após dez anos do primeiro lançamento.


Encontro do FórumCCNTs marcou o lançamento de materiais importantes para as CCNTs
Encontro do FórumCCNTs marcou o lançamento de materiais importantes para as CCNTs

Em seguida, o médico infectologista Renato Kfouri (SBIm/SBP) também lançou a segunda edição do material "Com Vacina Protejo Vidas!", produzido pelo FórumCCNTs e parceiros, com foco em gestores e profissionais de saúde. Encerrando a rodada, Rosana Teixeira, Selma de Brito e Yara Baxter (CRN3) apresentaram o livro "Nutrição Sem Estereótipos", que propõe uma abordagem mais inclusiva e ética na prática nutricional.


Participantes do 16º Encontro do FórumCCNTs realizado no dia 09/05/2025
Participantes do 16º Encontro do FórumCCNTs realizado no dia 09/05/2025

Por Letícia Martins é jornalista com foco em saúde, escritora, fundadora da Momento Saúde Editora e da revista Momento Diabetes.

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